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Um militante na batalha pelo software livre

Publicado: Domingo, 15 de Agosto de 2004, 00h00

O ESTADO DE SÃO PAULO | GERAL | 15/08/2004

Ex-comunista, chefe do ITI agora luta pela adoção dos programas gratuitos ALESSANDRO GRECO O mundo do software vive hoje uma batalha sem precedentes. De um lado, as grandes empresas que vendem licenças de programas. Do outro, uma comunidade de programadores que faz softwares semelhantes e os distribui sem cobrar licença. A briga entre o software proprietário e o software livre já é uma jovem adulta, tem quase 20 anos, mas apenas recentemente a batalha esquentou realmente no governo brasileiro. Muita desse fogo deve ser creditado ao sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira , de 42 anos, um mestre na arte de montar frases, que assumiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), órgão subordinado à Casa Civil, há um ano e seis meses. Nele, tem a tarefa diária de tentar convencer ministérios, empresas públicas e autarquias a usar software livre, do sistema operacional aos aplicativos, em seus computadores. Em sua cruzada, Amadeu da Silveira não poupa frases, às vezes virulentas, contra as empresas que vendem software proprietário. Já disse, em reportagem na revista Carta Capital, que a empresa Microsoft usava "tática de traficante" ao oferecer o sistema operacional Windows a alguns governos e prefeituras para a instalação em programas de inclusão digital. Criou também um slogan para sua luta: "Combata a pirataria, use software livre". MR-8 - Para defender suas idéias, Amadeu da Silveira usa também números. Segundo um exemplo que faz parte de documento preparado pelo ITI em conjunto com o Comitê Técnico para Implementação do Software Livre do Comitê do Governo Eletrônico, em apenas dois pregões eletrônicos em junho deste ano, o governo gastou R$ 1.814.508,96 em licenças de software básico (sistema operacional + suíte de escritório) para o período de um ano. "Se o gestor público utilizasse software livre, deixaria de despender licenças e este recurso poderia ser gasto, por exemplo, na capacitação de 1.296 técnicos em Linux avançado com certificação internacional", afirma o documento. Uma luta dura, como seu ardente defensor, que foi do movimento MR-8 ainda bem jovem, aos 16 anos, e depois passou pelo Partido Comunista, antes de entrar para o PT em 1984, logo após a campanha das Diretas. "Sempre fui militante", diz ele, com gestos largos e rápidos. Mas, apesar de sua eterna militância política, Amadeu da Silveira é um novato na militância do software livre, uma comunidade iniciada pelo americano Richard Stallman também na metade da década de 1980. "Até 1998 não conhecia o software livre. Ouvi falar quando fiz minha tese de mestrado sobre o controle do Estado sobre a internet", afirma ele. "Concluí que quem controla a infra-estrutura controla a rede." Inclusão na periferia - A constatação levou o sociólogo a estudar o assunto e desembocou na criação dos Telecentros em São Paulo, projetos de inclusão digital usando software livre na periferia da capital paulista, idealizado por ele em 2000 no Instituto de Políticas Públicas Florestan Fernandes. "Queria fazer um programa que servisse inclusive para ajudar na eleição da então candidata à Prefeitura de São Paulo Marta Suplicy." Os bons resultados alcançados pelo trabalho são creditados a Amadeu da Silveira por Beatriz Tibiriçá, que ficou em seu lugar na coordenação do governo eletrônico da prefeitura quando ele foi trabalhar no ITI há um ano e seis meses. "Por causa dele, conseguimos criar um plano de inclusão digital do porte dos telecentros", diz ela, que hoje coordena o trabalho das 108 unidades da periferia da cidade. Juntos, os telecentros atendem 350 mil pessoas e usam somente software livre. Mas a defesa incondicional do software livre como ferramenta necessária para a inclusão digital não é uma unanimidade. "Hoje, 95% das empresas usam softwares proprietário e, quando elas procuram pessoas no jornal, querem alguém que saiba usar Windows, Word e por aí vai", diz Rodrigo Baggio, diretor executivo da organização não-governamental Comitê para Democratização da Informática (CDI), que trabalha com inclusão digital em comunidades carentes desde 1994. E completa: "Temos de ouvir e respeitar a realidade dessas comunidades de baixa renda." Baggio acredita também que o uso do software livre está se expandindo e uma política de inicialização dupla do computador, na qual o usuário escolhe qual software usar, seria o ideal. O governo, no entanto, escolheu ter como política preferencial o uso do software livre, e o chefe dessa iniciativa é Amadeu da Silveira. "É uma pessoa com pensamento independente e é muito bem informado. Ele é uma fonte de renovação para o governo", diz Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, que instalou software livre nos computadores de seu gabinete e vai expandir o uso para o resto da instituição. Até o fim do ano, cinco ministérios (Cultura, Comunicações, Ciência e Tecnologia, Cidades e Minas e Energia) vão migrar para software livre. "Em 45 dias, um desses ministérios estará totalmente migrado para software livre", conta Amadeu da Silveira, fazendo suspense sobre qual deles será. Mas já exclui um: "Não será Cultura." No centro da mudança está a certeza de Amadeu da Silveira de que "o Brasil tem de ser uma liderança no novo paradigma da sociedade da informação, o paradigma do compartilhamento". Teia - Independentemente de qual for o ministério a mudança, segue o estilo alta velocidade usado por ele em seu dia-a-dia . A todo momento Amadeu da Silveira está jogando a teia - à la Homem-Aranha, de quem é fã - do software livre em um local do mundo. Na recente viagem do presidente Lula à África, lá foi ele instalar computadores em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, 11 em cada país, seguindo o modelo dos telecentros. Conseguir uma brecha para conversar com ele somente entre os inúmeros compromissos diários e, mesmo assim, pode haver uma mudança inesperada. Nas palavras dos que trabalham com ele: "Coisas do Sérgio." A abordagem Amadeu da Silveira, no entanto, é certas vezes considerada truculenta, embora o conteúdo de suas idéias seja respeitado por aqueles que convivem com ele. Entre 1995 e 2002, ele deu aula na Faculdade Cásper Líbero (Facasper) em São Paulo e conseguiu grande respeito dos alunos. "Ele era sério e simpático ao mesmo tempo, sendo conhecido como um dos professores que mais deixavam os alunos de exame final", afirma Welington Andrade, coordenador de jornalismo. Uma figura dura na queda, que não perde a oportunidade de dar uma estocada no software proprietário, mesmo que ele não tenha nada a ver com isso. "Em 85, na época das Diretas Já, fizemos a rádio Dengue, que usava o slogan: 'Piratas são eles, não estamos à procura do ouro'."

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