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Especialistas discordam de propostas

Publicado: Segunda, 24 de Julho de 2006, 11h34

O ESTADO DE SÃO PAULO | LINK | 24/07/2006

Maurício Moraes e Silva

Especialistas ouvidos pelo Link concordam com as críticas feitas pelo Macro Plano de Inclusão Digital, um estudo da consultoria BDO Trevisan que aponta vários problemas nas iniciativas desenvolvidas atualmente por União, Estados e municípios para ampliar a inclusão digital no País. Segundo eles, no entanto, a análise erra feio nas soluções propostas para ampliar o uso de computadores pela população brasileira. As idéias, que prevêem gastos de R$ 12 bilhões, estariam completamente ultrapassadas.

Os recursos seriam investidos na abertura de 14,7 mil telecentros e de 41 mil laboratórios de informática nas escolas. Haveria aí a intenção de levar os PCs ao maior número possível de pessoas, mas sem a preocupação de prepará-las adequadamente para dominar as novas ferramentas. "A questão não é o acesso, mas a capacidade que a população tem de usar", disse o professor Gilson Schwartz, diretor da Cidade do Conhecimento, um projeto de inclusão digital mantido pela Universidade de São Paulo (USP).

Para ele, o modelo sugerido está ultrapassado há pelo menos cinco anos e não serve de base para a criação de uma política para esta área. "É como dar um carro para uma pessoa que, quando chega na primeira bifurcação, não sabe nem onde está indo", explicou o professor. "O objetivo estratégico deve ser fazer inclusão no conhecimento e não no digital."

Schwartz destacou que o próprio governo tem algumas iniciativas muito mais inovadoras, como o Casa Brasil. O projeto prevê a criação, em áreas carentes, de espaços com telecentro, auditório, sala de leitura, oficina de rádio, sala multimídia, laboratório científico e de montagem e manutenção de equipamentos de informática, banco e acesso a serviços públicos.

Outra crítica está no fato de o estudo deixar a participação do terceiro setor em segundo plano - justamente uma das falhas apontadas na análise da situação atual. As ONGs só ajudariam na criação de telecentros em lugares remotos e nas zonas rurais, em uma etapa posterior. "O ponto forte desse trabalho é a análise da situação atual", destacou o diretor-executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), Rodrigo Baggio. "Mas se fala muito pouco em parcerias." O CDI é uma ONG que usa a tecnologia para promover inclusão social em comunidades carentes.

De acordo com Baggio, a inclusão digital só será efetiva se contar com a participação da sociedade civil. Com isso, ele acredita que haveria maior controle sobre os recursos e aumentariam a eficiência e a continuidade dos programas. "Qualquer macrotransformação na nossa sociedade só será possível com uma sinergia dos três setores: público, privado e da cidadania", afirmou.

Baggio defende a criação de um Comitê de Inclusão Digital nos moldes do Comitê Gestor da Internet, com representantes do governo, de empresas e da sociedade. O especialista criticou o fato de o Macro Plano propor a criação de milhares de telecentros e laboratórios de informática em estabelecimentos de ensino sem especificar qual é o melhor modelo nos dois casos. "A tecnologia nas escolas públicas tem sido mais focada na doação de computadores do que no uso", observou.

O estudo da consultoria BDO Trevisan também não explica de onde virá o dinheiro para sustentar os milhares de pontos de acesso criados em cinco anos. "Parte-se do pressuposto de que o poder público tem de investir eternamente em inclusão digital", afirma Wagner Diniz, presidente do Instituto Conip - Conhecimento, Inovação e Práticas de Tecnologia da Informação na Gestão Pública. "O governo não é um saco sem fundo." Ele acredita que as unidades construídas teriam de produzir recursos que cobrissem ao menos parte dos gastos.

O sociólogo Sérgio Amadeu afirmou que análises como a da consultoria são muito importantes por levantar a discussão de pontos bastante significativos. "A inclusão digital no Brasil precisa ser uma política pública e envolver os três níveis de governo e as ONGs, senão não vai ser bem-sucedida", disse. Amadeu acha importante usar os recursos disponíveis no Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Também alertou que se deve capacitar o público para usar as tecnologias da informação. "As pessoas acham que inclusão digital é só jogar os computadores nos lugares. Não é."

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