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OLPC

Publicado: Terça, 14 de Agosto de 2012, 22h47

11.09.2007 | OLPC : computadores e computadores! COMPUTERWORLD | Editoria: Certificação Digital | Assunto: Certificação DigitalRenato Martini é diretor-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.O OLPC ou 'Um Computador por Aluno' carece de formulação no campo pedagógico. Como se incorpora aos docentes num processo de mudança? Por Renato Martini.10 de setembro de 2007 - 10h10Com colaboração de Marcelo ZuffoA Agência de Notícias da Fapesp divulgou no mês de julho deste ano, – o que pautou os diversos veículos de comunicação, sobretudo aqueles ligados à tecnologia da informação –, um interessante debate sobre os chamados “Computadores de 100 dólares”, ou projeto OLPC (One Laptop Per Child), ou coisa que o valha. Em suma, um debate relacionado ao uso dos computadores por crianças no ambiente educacional, levado a cabo pelo Professor Valdemar Setzer na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.O debate é válido antes de qualquer consideração. Muito válido, queremos ressaltar. E a Universidade brasileira cumpre seu papel ao provocar nossas certezas. Correto que seja assim, e todos aqueles que lideram projetos de impacto na sociedade devem estar preparados a ouvir e ajustar os seus rumos, quando inqüestionavelmente se fizer necessário.Não conhecemos a pesquisa do Professor Setzer, números ou avaliações. Queremos tão-somente levantar alguns pontos que me vieram a nossa mente, após a leitura dos artigos na imprensa. Visto que foi o que efetivamente tivemos às mãos. Não desejamos fazer, por conseguinte, nenhum juízo científico sobre resultados de pesquisas empíricas ou conceituais que desconhecemos. Todavia, algumas frases e assertivas nos puseram a pensar sobre o tema. E pedir licença ao leitor desta coluna, tradicionalmente voltado ao tema da segurança digital, para falarmos um pouco sobre tema tão mobilizador. Devemos dizer que, a priori, consideramos a tese que este projeto, o OLPC (ou UCA – “Um Computador por Aluno”, na forma abrasileirada), carece sem dúvida de formulação no campo pedagógico. Este ou mesmo qualquer outro projeto de tecnologia na educação, diga-se ainda. E assim fará por certo o segmento pedagógico, seus técnicos e profissionais darão a contribuição necessária. Evidentemente que projetos como o OLPC trazem dificuldades notórias, sobretudo em países situados na periferia do capitalismo mundial. São projetos complexos, multifacetados e repletos de dificuldades.Mas concordamos com o Hugo Scolnik, matemático e Professor da Universidade de Buenos Aires, e coordenador do OLPC na Argentina. Após elencar um conjunto de questões imediatas do projeto, tais como: em qual plano educativo ele se inscreve? Como se assegura que a introdução da tecnologia não ajude a incrementar as desigualdades existentes? Como se incorpora aos docentes num processo de mudança? Quais são os tempos para se realizar isso? Não há coisas mais importantes e imediatas?... Mas, conclui corretamente Scolnik: “hay que salir a la cancha" (é necessário sair para o jogo), - o pior a se fazer é nada fazer. Não se pode em absoluto paralisar quando nos deparamos com um conjunto de questões, - pois os questionamentos são um combustível para projetos desta natureza. Até porque se trata de um desafio para o qual há muitas perguntas e poucas respostas, ressalta ainda o pesquisador argentino.Não obstante, perdidos numa floresta de perguntas, algumas certezas iniciais podem consideradas. Primeiro, qualquer investigação sobre o computador, a tecnologia da informação, estará perdido se a tecnologia de nossos dias é considerada como um mera ferramenta ou utensílio. Definitivamente não o é. A concepção tradicional da técnica considera esta como presa na dicotomia sujeito-objeto, poderia chamá-la também de uma concepção instrumental da tecnologia.Pense num martelo, a título de exemplo, - com este utensílio, e segundo meu desejo de sujeito, realizo, ou ainda, altero o objeto. Por isso, não posso concordar com a analogia com o “andador”, seria o computador uma espécie de “andador mental”, como está dito na matéria supra-citada. Ora, dirá o leitor, é apenas uma singela analogia. Sem dúvida, e a pior forma de definição é a analogia. O computador, e a técnica moderna, transformam o homem e a sociedade. Não é a “ferramenta” que o homem faz e desfaz, mas antes mesmo é modificado por aquela, mas nunca numa rua de mão única, digamos assim.Aqui nesta relação, não há mais a dicotomia sujeito e objeto, tudo se passa como se a ferramenta transformasse o sujeito que a usa. E de forma vertical, observemos a sociedade em rede e tudo que se transforma em nossos dias. O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação executa e coordena os trabalhos de um dos maiores programas de inclusão digital do governo, o programa Casas Brasil. Trata-se a construção unidades dotadas de computadores em rede, de uso público pelas comunidades locais, em todas capitais brasileiras. É surpreendente ver a capacidade com que a técnica, o acesso livre aos seus dispositivos, transforma essas comunidades.Talvez o leitor se recorde de uma obra que fez sucesso nos anos 60: O Homem Unidimensional, de Herbert Marcuse. Aí a razão tecnológica-instrumental é apenas uma forma de dominação da natureza e dos homens, - era a visão que tínhamos naqueles anos do “cérebro eletrônico”. A técnica contrariamente não unidimensionaliza o homem, talvez ela o pluridimensionalize, pois abre um horizonte enorme de possibilidades e realizações. A visão de Marcuse não é errada nem certa, ela é simplesmente datada. Assim como é datada a visão que o computador desumaniza o homem, - o alienaria por assim dizer. Evidentemente que tudo isto se passa a partir de uma concepção específica do homem e dos computadores. Mas, como assinala Hubert Dreyfuss (What Computers Still Can't Do, cap. 9): “tendo em vista que os seres humanos produzem fatos, estes próprios fatos são transformados pelas revoluções conceituais”.Impossível, portanto, apartar a escola e a criança deste processo. Com esta assertiva vejo uma segunda premissa. Já em 1964, o filósofo alemão, Martin Heidegger, num colóquio da Unesco, advertia: não é necessário ser nenhum profeta para adivinhar que a cibernética dominará a vida e a sociedade. É impossível hoje que alguém não se relacione de alguma forma com os dispositivos da técnica. Eles estão em nossas vida inapelavelmente. E ótimo que assim seja. A nosso ver, a tecnofobia é em grande parte uma concepção elitista e descompassada da vontade coletiva.Em outras palavras: os brasileiros mais e mais se esforçam para terem acesso aos bens e dispositivos do mundo da técnica. Provocar assim um reposicionamento da indústria tecnológica se faz meritório e urgente. César Alvarez que coordena no governo federal os esforços nesta área de inclusão digital, disse com razão em recente entrevista que “o mundo dos fabricantes só se preocupa com o bilhão de terráqueos que consomem, e não com os outros 5,6 bilhões que não consomem, e que são a juventude pobre dos países”. REFERÊNCIAS“59ª Reunião Anual da SBPC: Críticas aos computadores de US$ 100”, Agência Fapesp“Hugo Scolnik opinó sobre OLPC” e “Educ.ar publicó el informe de la UBA sobre OLPC”.“Una laptop por niño - Evaluaciones de Hugo Scolnik”.H. Dreyfuss. What Computers Still Can't Do: A Critique of Artificial Reason. MIT Press, 1992.“No comando da inclusão digital”, entrevista com César Alvarez

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