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OLPC : computadores e computadores!

Publicado: Terça, 11 de Setembro de 2007, 11h35

11.09.2007 | COMPUTERWORLD | Editoria: Certificação Digital | Assunto: Certificação Digital

Renato Martini é diretor-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.

O OLPC ou 'Um Computador por Aluno' carece de formulação no campo pedagógico. Como se incorpora aos docentes num processo de mudança? Por Renato Martini.10 de setembro de 2007 - 10h10Com colaboração de Marcelo ZuffoA Agência de Notícias da Fapesp divulgou no mês de julho deste ano, – o que pautou os diversos veículos de comunicação, sobretudo aqueles ligados à tecnologia da informação –, um interessante debate sobre os chamados “Computadores de 100 dólares”, ou projeto OLPC (One Laptop Per Child), ou coisa que o valha. Em suma, um debate relacionado ao uso dos computadores por crianças no ambiente educacional, levado a cabo pelo Professor Valdemar Setzer na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.O debate é válido antes de qualquer consideração. Muito válido, queremos ressaltar. E a Universidade brasileira cumpre seu papel ao provocar nossas certezas. Correto que seja assim, e todos aqueles que lideram projetos de impacto na sociedade devem estar preparados a ouvir e ajustar os seus rumos, quando inqüestionavelmente se fizer necessário.Não conhecemos a pesquisa do Professor Setzer, números ou avaliações. Queremos tão-somente levantar alguns pontos que me vieram a nossa mente, após a leitura dos artigos na imprensa. Visto que foi o que efetivamente tivemos às mãos. Não desejamos fazer, por conseguinte, nenhum juízo científico sobre resultados de pesquisas empíricas ou conceituais que desconhecemos. Todavia, algumas frases e assertivas nos puseram a pensar sobre o tema. E pedir licença ao leitor desta coluna, tradicionalmente voltado ao tema da segurança digital, para falarmos um pouco sobre tema tão mobilizador. Devemos dizer que, a priori, consideramos a tese que este projeto, o OLPC (ou UCA – “Um Computador por Aluno”, na forma abrasileirada), carece sem dúvida de formulação no campo pedagógico. Este ou mesmo qualquer outro projeto de tecnologia na educação, diga-se ainda. E assim fará por certo o segmento pedagógico, seus técnicos e profissionais darão a contribuição necessária. Evidentemente que projetos como o OLPC trazem dificuldades notórias, sobretudo em países situados na periferia do capitalismo mundial. São projetos complexos, multifacetados e repletos de dificuldades.Mas concordamos com o Hugo Scolnik, matemático e Professor da Universidade de Buenos Aires, e coordenador do OLPC na Argentina. Após elencar um conjunto de questões imediatas do projeto, tais como: em qual plano educativo ele se inscreve? Como se assegura que a introdução da tecnologia não ajude a incrementar as desigualdades existentes? Como se incorpora aos docentes num processo de mudança? Quais são os tempos para se realizar isso? Não há coisas mais importantes e imediatas?... Mas, conclui corretamente Scolnik: “hay que salir a la cancha" (é necessário sair para o jogo), - o pior a se fazer é nada fazer. Não se pode em absoluto paralisar quando nos deparamos com um conjunto de questões, - pois os questionamentos são um combustível para projetos desta natureza. Até porque se trata de um desafio para o qual há muitas perguntas e poucas respostas, ressalta ainda o pesquisador argentino.Não obstante, perdidos numa floresta de perguntas, algumas certezas iniciais podem consideradas. Primeiro, qualquer investigação sobre o computador, a tecnologia da informação, estará perdido se a tecnologia de nossos dias é considerada como um mera ferramenta ou utensílio. Definitivamente não o é. A concepção tradicional da técnica considera esta como presa na dicotomia sujeito-objeto, poderia chamá-la também de uma concepção instrumental da tecnologia.Pense num martelo, a título de exemplo, - com este utensílio, e segundo meu desejo de sujeito, realizo, ou ainda, altero o objeto. Por isso, não posso concordar com a analogia com o “andador”, seria o computador uma espécie de “andador mental”, como está dito na matéria supra-citada. Ora, dirá o leitor, é apenas uma singela analogia. Sem dúvida, e a pior forma de definição é a analogia. O computador, e a técnica moderna, transformam o homem e a sociedade. Não é a “ferramenta” que o homem faz e desfaz, mas antes mesmo é modificado por aquela, mas nunca numa rua de mão única, digamos assim.Aqui nesta relação, não há mais a dicotomia sujeito e objeto, tudo se passa como se a ferramenta transformasse o sujeito que a usa. E de forma vertical, observemos a sociedade em rede e tudo que se transforma em nossos dias. O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação executa e coordena os trabalhos de um dos maiores programas de inclusão digital do governo, o programa Casas Brasil. Trata-se a construção unidades dotadas de computadores em rede, de uso público pelas comunidades locais, em todas capitais brasileiras. É surpreendente ver a capacidade com que a técnica, o acesso livre aos seus dispositivos, transforma essas comunidades.Talvez o leitor se recorde de uma obra que fez sucesso nos anos 60: O Homem Unidimensional, de Herbert Marcuse. Aí a razão tecnológica-instrumental é apenas uma forma de dominação da natureza e dos homens, - era a visão que tínhamos naqueles anos do “cérebro eletrônico”. A técnica contrariamente não unidimensionaliza o homem, talvez ela o pluridimensionalize, pois abre um horizonte enorme de possibilidades e realizações. A visão de Marcuse não é errada nem certa, ela é simplesmente datada. Assim como é datada a visão que o computador desumaniza o homem, - o alienaria por assim dizer. Evidentemente que tudo isto se passa a partir de uma concepção específica do homem e dos computadores. Mas, como assinala Hubert Dreyfuss (What Computers Still Can't Do, cap. 9): “tendo em vista que os seres humanos produzem fatos, estes próprios fatos são transformados pelas revoluções conceituais”.Impossível, portanto, apartar a escola e a criança deste processo. Com esta assertiva vejo uma segunda premissa. Já em 1964, o filósofo alemão, Martin Heidegger, num colóquio da Unesco, advertia: não é necessário ser nenhum profeta para adivinhar que a cibernética dominará a vida e a sociedade. É impossível hoje que alguém não se relacione de alguma forma com os dispositivos da técnica. Eles estão em nossas vida inapelavelmente. E ótimo que assim seja. A nosso ver, a tecnofobia é em grande parte uma concepção elitista e descompassada da vontade coletiva.Em outras palavras: os brasileiros mais e mais se esforçam para terem acesso aos bens e dispositivos do mundo da técnica. Provocar assim um reposicionamento da indústria tecnológica se faz meritório e urgente. César Alvarez que coordena no governo federal os esforços nesta área de inclusão digital, disse com razão em recente entrevista que “o mundo dos fabricantes só se preocupa com o bilhão de terráqueos que consomem, e não com os outros 5,6 bilhões que não consomem, e que são a juventude pobre dos países”. REFERÊNCIAS“59ª Reunião Anual da SBPC: Críticas aos computadores de US$ 100”, Agência Fapesp“Hugo Scolnik opinó sobre OLPC” e “Educ.ar publicó el informe de la UBA sobre OLPC”.“Una laptop por niño - Evaluaciones de Hugo Scolnik”.H. Dreyfuss. What Computers Still Can't Do: A Critique of Artificial Reason. MIT Press, 1992.“No comando da inclusão digital”, entrevista com César Alvarez

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